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Move2LowC: Combustíveis de Base Biológica - Entrevista a Manuel Gil Antunes

Cofinanciado pelo COMPETE 2020 e liderado pela A4F - Algafuel, S.A., o projeto Move2LowC mobiliza Universidades, Institutos de I&D, PMEs e Grandes Empresas, para cooperarem com o objetivo de aumentar o aproveitamento de biomassa aquática (microalgas), biomassa florestal residual e de efluentes industriais para a produção de biocombustíveis, numa lógica de Economia Circular. Em entrevista ao COMPETE 2020, Manuel Gil Antunes, Administrador Delegado da A4F, falou do projeto e explicou as suas principais motivações, o seu elemento diferenciador, os desafios superados e os resultados já alcançados.

Manuel Gil Antunes | Administrador Delegado da A4F

Como nasceu o projeto Move2LowC?

O imperativo da transição energética convida-nos a questionar os meios de transporte atuais e a adotar novos conceitos, como a mobilidade suave, a partilha, a mobilidade inteligente e a mobilidade sustentável. Nesta última inclui-se a substituição dos combustíveis de origem fóssil por motorizações elétricas, mas também as soluções inovadoras que o hidrogénio e os combustíveis de base biológica nos apresentam, particularmente quando o potencial da eletrificação é mais limitado, como no caso da aviação e do transporte rodoviário pesado de passageiros e de longo curso de mercadorias.

É precisamente neste domínio dos combustíveis de baixo carbono que se posiciona o projeto Move2LowC, impulsionado e coordenado pela A4F – Algafuel.

Acreditamos no impacto favorável que a economia do hidrogénio e de base biológica podem ter em termos económicos, sociais e ambientais, e estamos seguros do elevado potencial que o hidrogénio verde, o biogás, a biomassa de microalgas e ainda a utilização de outras matérias-primas renováveis de base biológica constitui para a produção de energia em vários setores.


Quais foram as principais motivações?

O Move2LowC assume-se como uma resposta da bioeconomia ao desafio da mudança climática e como uma oportunidade de transformar o modelo económico através da criação de alternativas sustentáveis, não unicamente baseadas na energia elétrica, na área da mobilidade.

Este projeto corporiza a ambição inovadora de produzir, por um lado, hidrogénio e gás natural renováveis para o transporte rodoviário pesado, de mercadorias e de passageiros e, por outro, biocombustível para o transporte aéreo. Novos desenvolvimentos levarão à extensão da utilidade destas tecnologias também para o transporte marítimo.

O interesse e o alcance de uma iniciativa desta natureza estão bem patentes no entusiasmo com que a indústria portuguesa se envolveu no projeto. Basta dizer que, por ocasião do lançamento, em finais de outubro de 2020, o projeto congregou a participação de nada menos de 22 parceiros, entre grandes consumidores de combustíveis, como a TAP, empresas industriais e entidades do sistema científico e tecnológico nacional.

Com o Move2LowC procuramos não só desenvolver racional tecnológico, como também traçar um plano de exploração que suporte o investimento na produção de gases renováveis e biocombustíveis à escala comercial.

O cofinanciamento obtido junto do Programa COMPETE 2020, no âmbito dos sistemas de incentivos à investigação e desenvolvimento tecnológico (programas mobilizadores), no valor de 8,2 milhões de euros, para um investimento total de 11,2 milhões de euros na área da transição energética, reflete não só o mérito científico e o potencial inovador que o projeto contém, mas igualmente a sua importância estratégica no quadro do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050.

O projeto tem 2023 como prazo de concretização e pretende desenvolver soluções inovadoras na área da biotecnologia para a produção de biocombustíveis para a aviação, quer a partir de biomassa de microalgas, quer por via da fermentação utilizando resíduos florestais.

Já para a rodovia, a aposta consiste no hidrogénio verde e na produção de gás natural renovável.


O que considera ser o elemento diferenciador no projeto Move2LowC?

A maior diferenciação do Projeto Move2LowC reside na aposta em soluções para a mobilidade nos setores em que a mobilidade elétrica apresenta maiores limitações: o transporte pesado terrestre e a aviação. Outra diferenciação relevante assenta na combinação virtuosa entre a bioeconomia azul (biomassa marinha e aquática) e a produção de gases renováveis (hidrogénio e biogás) para encontrar respostas diferentes para aplicações comuns.

Tudo isto para além do facto de se tratar de um projeto de demonstração alinhado com o desafio da transição verde, do Pacto Ecológico Europeu, de ter uma componente muito elevada de inovação, e de estar a ser desenvolvido em Portugal, com a participação de universidades, de institutos de I&D, de gigantes industriais, mas também de PME de grande potencial.

Temos, assim, envolvido em torno de um projeto fortemente mobilizador um conjunto de atores com papel de liderança na indústria Biotecnológica e química, na investigação aplicada em Portugal e no setor da mobilidade, todos empenhados numa agenda de inovação que se propõe oferecer novas soluções de mobilidade (Move) com baixas emissões de Carbono (LowC).


Como se apresenta o projeto estruturado?

O Move2LowC está organizado segundo quatro grandes subprojectos complementares, que têm vindo a ser desenvolvidos nas áreas que passo a citar:

  • Investigação & Inovação em biorrefinarias para biocombustíveis de aviação a partir de microalgas autotróficas;

  • Investigação & Inovação em biorrefinarias para biocombustíveis de aviação por fermentações heterotróficas utilizando biomassas residuais de natureza lenhocelulósica (resíduos da fileira florestal);

  • Investigação & Inovação em tecnologias e processos de produção de hidrogénio verde para soluções de mobilidade;

  • Produção de gás natural renovável.

Estes quatro subprojetos, três dos quais liderados pela A4F e pelas suas participadas Biotrend e HyChem, são complementares e sinérgicos, como referi. Visam um maior aproveitamento da biomassa, a utilização de tecnologias de conversão de biomassa em biocombustíveis, o desenvolvimento de tecnologias de refinação de biocombustíveis replicáveis e, ainda, reduzir o impacto e aumentar a sustentabilidade das empresas de transporte.

O quarto subprojecto é liderado pela DouroGás e visa a produção de biogás.

Num esforço conjugado da HyChem e da Dourogás o projeto prevê a instalação e operação de um posto de abastecimento de Hidrogénio para veículos pesados, no Parque Industrial da HyChem, na Póvoa de Santa Iria, que deverá estar operacional no início de 2023.

O Move2LowC tem ainda o mérito de atrair empresas potencialmente interessadas em replicar o modelo desenvolvido de produção de biojet fuel ou de hidrogénio renovável a uma escala maior.

Quais são os principais desafios com que se estão a deparar no desenvolvimento do projeto?

Um projeto desta envergadura, e com a ambição que salientei, enfrenta vários desafios científicos e tecnológicos, nomeadamente:

i) a articulação entre um grande número de co-promotores (18) e parceiros (7), incluindo entidades de diferente dimensão e tipologia (grandes empresas, PMEs, universidades);

ii) o curto prazo de execução (32 meses) para um projeto de grande dimensão e ambição. Tendo em conta que o projeto arrancou em 2020, a sua execução tem vindo a ser afetada pelos efeitos da pandemia, quer as restrições que esta trouxe (por exemplo, períodos de confinamento), quer as perturbações nas cadeias de distribuição de materiais/equipamentos, que têm implicado atrasos significativos;

iii) os desafios tecnológicos inerentes ao desenvolvimento de soluções inovadoras de produção de combustíveis de base biológica.

No entanto, a A4F e os seus parceiros no consórcio estão comprometidos com o cumprimento das metas e dos principais objetivos do projeto, concretizando em resultados replicáveis e escaláveis a ambição que congregou tantos parceiros de relevo em torno de uma visão comum de futuro.


De entre os resultados até agora alcançados, há algum que gostaria de destacar?

Não tenho forma de responder à sua questão sem ser através de uma linguagem técnica. Peço a melhor compreensão dos leitores, pois estamos a falar de um trabalho de investigação biotecnológica e a equipa de projeto não me perdoaria se utilizasse alguma expressão menos correta.

Durante o primeiro ano do projeto, a A4F desenvolveu e otimizou com sucesso um primeiro procedimento para a produção de biocombustível para aviação a partir de microalgas. Dito por outras palavras, um processo de produção de biomassa de microalgas, num sistema aberto de produção intensiva, utilizando o efluente da ADP Fertilizantes, rico em azoto, como meio de cultivo.

Para tal, a A4F instalou um reator aberto do tipo raceway convencional na unidade industrial da ADP Fertilizantes nos Salgados da Póvoa (Alverca do Ribatejo), o qual tem vindo a ser operado de modo a promover o crescimento de microalgas para a biorremediação desse efluente.

Simultaneamente, a produção de biomassa de microalgas permitiu o início dos ensaios de HTL (Hydrothermal Liquefaction) pelo LNEG, com vista à produção de bio-óleos.

O trabalho inicialmente realizado a uma escala piloto permitiu o desenvolvimento de uma formulação do meio de cultivo e o estabelecimento de uma rotina de operação, o que permitiu, depois, transferir o cultivo das algas para o ALGATEC Eco Business Park, na Póvoa de Santa Iria, onde o ensaio passou a ser conduzido em grande escala, estando atualmente em prática num raceway de 2200 metros quadrados de área fotossintética.

Ao mesmo tempo, passos importantes foram dados ao nível da tecnologia de compressão e disponibilização de Hidrogénio para o transporte pesado, com o desenvolvimento do protótipo do posto de abastecimento.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto, que tem um investimento global de 11,2 milhões de euros, conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (Programas Mobilizadores), envolvendo um investimento elegível de 8,2 milhões de euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 4,6 milhões de euros.



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